É CARNAVAL: HORA DE VER O AVESSO DO AVESSO
Parece que estou brincando com o que não se deve, mas meus argumentos são sérios. Se o mundo parece de cabeça para baixo, devemos pôr os pés no chão para entender o rumo das coisas. Se parece estar no avesso, por que não olhar pelo “avesso do avesso”, e ver as coisas tal como são? Se o rei se veste de palhaço, certamente há de haver um palhaço que se veste de rei e um pierrô de colombina.
Aqui vou ater-me à inversão de tomar o efeito pela causa. Refiro-me a um tipo de interpretação dos fatos com toda aparência de terem um laço causal, que de fato têm, só que na ordem inversa. O exemplo que me ocorre é o daqueles que atribuem o débâcle da economia aos efeitos da pandemia, quando a linha de evolução do PIB entrou em queda desde o início do governo Bolsonaro, um ano antes de se ter sequer notícia sobre a pandemia.
Ora, o que vem depois (a pandemia) não pode causar o que já existia antes. O caso é emblemático, porque a pandemia tem efetivamente relação causal com a dramática aceleração da queda do PIB. Essa relação causal, entretanto, não é simples nem direta: são as reações à pandemia – tanto pessoais como empresariais e de políticas públicas – que provocam a diminuição das atividades econômicas, esta sim, responsável pela queda do PIB. O vírus, em si, não tem qualquer efeito direto sobre o setor produtivo.
No entanto, quase sem exceção, a opinião geral atribui a causa do mau desempenho da economia, que veio antes, à pandemia, que veio depois. Esta confusão não é irrelevante, do tipo “quem veio antes, o ovo ou a galinha?” É, ao contrário, crucial tanto para a retomada do crescimento, quanto para a superação da pandemia.
Se não foi a pandemia que causou o mau desempenho da economia, seria necessário buscar outras causas, não de natureza sanitária, mas de natureza política e econômica. Minha hipótese é que seu mau desempenho resulta de um conjunto de fatores provocados pela falta de rumo da economia – isto é, decisões equivocadas, iniciativas contraditórias e omissões. Esta falta de rumo da economia, por sua vez, deriva de um conjunto de fatores de natureza política – repito: decisões equivocadas, iniciativas contraditórias e omissões, que criaram um clima dificilmente remediável de desconfiança mútua entre o Executivo e o Legislativo (sem falar no Judiciário).
Sem clareza sobre o fluxo causal, a probabilidade de diagnóstico correto do problema é ínfima, resultando em soluções igualmente equivocadas. Ora, imaginemos que a crise econômica resultasse dos obstáculos impostos pela pandemia ao livre desempenho das atividades econômicas, e não da política econômica equivocada. Então, sua solução residiria em livrar-se o quanto antes desses obstáculos – o combate à pandemia – e, na economia, ater-se ao “tudo como dantes no quartel de Abrantes”.
Daí a lógica perversa de impor obstáculos aos que combatem a Covid-19 e tomar como inimigos mortais os que neles acreditam e os apoiam, isto é, nós, a imensa maioria dos cidadãos brasileiro,