SALVE-SE QUEM PUDER
Por favor, que me desculpem, mas não consigo entender como é possível ficar perplexo diante das repetidas reações explosivas do Presidente. Afinal, é perfeitamente previsível que explosões se repitam e que sua causa não seja cristalina.
Também não entendo como é possível ficar tentando, reiteradamente, adivinhar o que ele tem em mente, deixando de lado a observação de sua conduta, uma vez que, em bom português, o que ele diz não se escreve. Primeiro, não é possível observar o que alguém tem em mente e, ademais, se é sabido que não há nexo causal entre o que nosso presidente diz e o que ele faz, é irrelevante saber o que ele pensa a respeito do que diz ou a respeito do que faz.
A falta de entendimento dessa premissa talvez explique os palpites mais frequentes sobre as intenções presidenciais. Há pouco vinha-se atribuindo suas explosões, e suas outras condutas esdrúxulas, à obsessão presidencial pela imunidade de sua família e seus amigos, ou por relaxamento das leis de trânsito, ou por remédios inócuos. Agora tenta-se explicar tudo e seu oposto, pela razão de que o Presidente só pensa em sua reeleição. Mas isso explicaria a conduta de quem quer que tenha mandato eletivo o quê, convenhamos, é inteiramente compreensível.
O último caso de perplexidade foi a explosão motivada pela vacina paulista, atribuída a sua obsessão de ganhar as eleições de 2022. Bom, obsessão de perder é que seria estranho – embora, sendo de quem se trata, não seria totalmente raro. Mas, depois disso, vieram as explosões da obrigatoriedade da vacina e agora a do preço do arroz. Tudo, evidentemente, como estratégia motivada pela obsessão de ganhar as eleições de 2022. Ao contrário de um cálculo estratégico, alguém obcecado se inclinaria mais a agir por impulso, de olhos fechados, como se diz.
Ora, o que explica tudo não explica nada. Nem poderia ser parte de uma estratégia porque, no conjunto, essas obsessões claramente não se concatenam, nem sequer, tomadas isoladamente, poderiam servir de evidências de uma conduta voltada para ganhar eleição. Quem destrata um possível eleitor, que ingenuamente reclama do preço do arroz e é tratado a pontapés? Quem se compromete abertamente contra uma vacina, quando resultados de pesquisa apontam que 85% dos eleitores estão ansiosos a sua espera? Quem se envolve numa eleição local, escolhendo o maior perdedor de eleições executivas, para, com isso, somar as rejeições de ambos?
Minha hipótese é que ele não adota uma estratégia, porque não foi treinado para isso, foi treinado apenas para comandar ações táticas, mesmo assim, pelo que posso observar de sua conduta, trata-se de um número reduzido e grosseiro de opções táticas.
E com tudo, sem nunca ter comandado mais do que um punhado de pelotões, o Capitão está no comando do País. Salve-se quem puder.